Muito antes de me juntar à equipa komoot como Engenheiro de Garantia de Qualidade, eu já era obcecado por trilhos de caminhada e pelo estado em que se encontravam. É por essa razão que o Trail View é uma das minhas funcionalidades preferidas do komoot. Adoro os pontos verdes no mapa que mostram como é um trilho e tenho ainda mais interesse em saber se está bem construído e cuidado. Deixem-me explicar esta obsessão estranha.
Acabei o curso durante a recessão de 2008 e decidi trocar a procura de emprego por uma aventura de 3 meses, a construir trilhos em alguns dos parques mais reconhecidos dos EUA. Descobri uma organização que me permitia trabalhar como cuidador da natureza voluntário, poupei dinheiro com alguns biscates e pus-me a caminho.
Parte dessa função de voluntário incluía trabalho com o Serviço Nacional de Parques dos Estados Unidos (NPS), a entidade responsável pela manutenção de milhares de quilómetros de trilhos nas áreas protegidas dos EUA. Num esforço para manter a segurança dos trilhos, em concordância com os protocolos rígidos, o serviço precisa de corpos fortes, capazes e motivados para fazer a manutenção esses mesmos trilhos. Construir os trilhos que muitos têm como certos fez-me olhar para os caminhos de forma diferente, quer estivesse a caminhar ou a correr neles.
Eis um resumo da minha experiência num dos projetos que recordo com afeto: O projeto Grand Canyon Rock Work.
Terça-feira, 7 de julho
Estou destacado à porta de um dos dormitórios com uma mochila de 75 litros, outra mochila de 35 litros, garrafas para pelo menos 8 litros de água e uma tenda de uma pessoa – o necessário para um acampamento de 8 dias numa zona remota. Uma carrinha branca com atrelado estaciona na berma e alguns voluntários ensonados saem para uma espreguiçadela ou para ir à casa de banho, enquanto eu carrego as coisas.
Na viagem de duas horas até ao Grand Canyon, recolhemos duas geleiras completamente cheias com comida para 8 dias, para o nosso grupo de voluntários internacionais. Erguemos o acampamento, preparamos o equipamento para o dia seguinte e realizamos a obrigatória reunião sobre aspetos de segurança, para nos entendermos. Delineamos o plano de ação para amanhã e após uma refeição simples deitamo-nos cedo.
Quarta-feira, 8 de julho
O líder do grupo acorda-nos com um grito primitivo estranho. Este ato de loucura rasgou sorrisos nas nossas caras ensonadas, enquanto devorávamos os cereais com café instantâneo, de madrugada. Ao nascer do sol embalamos o almoço, abastecemo-nos de água, eletrólitos e granola e estamos prontos para o trilho.
Após uma curta distância de automóvel chegamos a Yaki Point, o início do trilho Kaibab na orla meridional do Grand Canyon. É o segundo trilho mais popular que leva até Phantom Ranch, o único alojamento na base do desfiladeiro, para quem não gosta de acampar. É bastante usado pelos cuidadores de mulas do Serviço Nacional de Parques para levar mantimentos ao alojamento, razão pela qual fomos chamados. Após anos de muitas travessias com mulas, o trilho está desgastado. O caminho íngreme está agora cheio de perigos e temos como tarefa construir degraus na rocha vermelha que ladeia o trilho.
O SNP exprimiu claramente o desejo de manter os trilhos do Grand Canyon autênticos. Isto significa que não é possível usar betão, vergalhões de aço, misturas químicas ou outras soluções modernas, como as resinas epóxi. Em vez disso, utilizaremos métodos tradicionais e trabalhosos, dividindo as tarefas de construção em pequenos grupos.
Um grupo procura calhaus que possam ser utilizados, e quando digo calhaus refiro-me a pedregulhos do tamanho de vacas, um pouco mais acima no trilho. Um grupo de trabalho fratura-os em blocos de tamanho utilizável (semelhantes a malas de cabina) com o uso de martelos e cinzeis, e outra equipa leva-os para o trilho tirando partido de pontos de apoio e da gravidade. Entretanto, outro grupo recolhe pequenos seixos ou cascalho, utilizados como alternativa ao betão, para nivelar a base de cada degrau. Serão também utilizados para marcar os limites do trilho. Marcar o caminho com clareza garante que as pessoas se mantêm no trilho, evitando a erosão acrescida. Também previne que as pessoas percam acidentalmente o rumo, aumentando o risco de perigo na natureza.
Depois de colocadas as pedras a limitar o trilho, juntam-se pedras mais pequenas para reforçar ou preencher as zonas do trilho esburacadas pelas mulas. É um trabalho difícil.
Perto das 17:00, pegamos nas ferramentas e voltamos a subir para a orla do desfiladeiro. Fazemos alongamentos, contamos as cabeças, decidimos quem vai cozinhar e concordamos qual será a ementa. Felizmente temos casas de banho portáteis, mas não existem chuveiros. Estamos cobertos de suor e de pó vermelho do dia de trabalho, mas o cansaço físico faz-nos entrar felizes nos sacos-cama às 21:00, sem sequer pensarmos na higiene.
Este horário é repetido durante 8 dias consecutivos; cinzelar pedregulhos e reunir o cascalho, antes de levar tudo para o sítio apropriado. O trilho que nós decidimos construir começa a parecer-se como tal.
Ao ler novamente os meus velhos blogues sobre esta experiência, e quanto trabalho manual esteve envolvido neste trilho, não é de admirar que agora olhe para os trilhos de uma forma bem diferente!
Texto e fotografias de Willem Dauwen
Willem Dauwen está na equipa de garantia de qualidade do komoot, e garante que as novas funcionalidades funcionam devidamente, antes de as partilharmos com os utilizadores. Ele é um ávido corredor de trilhos e, entre as corridas, desfruta dos espaços verdes da Bélgica com a sua jovem família.